sábado, 30 de abril de 2011

MEU DESMETRIFICADO

As vezes fujo da métrica
Quando meu verso rimado
Talvez não queira a censura
Mas é poesia pura
O meu desmetrificado.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

APENAS UM POETA

Estes versos, por incrível que pareça, eu fiz quando estava dormindo.

Não sou um poeta famoso
nem tão pouco um imortal,
sou apenas um poeta,
que ao ver a lua e as estrela
a fazer festa,
se não escreve
passa mal.

Edmar Eudes

AO CANTADOR

Acorda, levanta, abre as cortinas
pra ouvir uns repente, umas rima
que o cantador tá pra chegar.
Abre teu coração
e entrega a ele um mote
ou então pede um galope
um galope à beira mar.

É que quando ele canta
sai mistérios da garganta,
de quem sabe improvisar.
Ô morena toma uma rosa,
dai-me um beijo
que eu te dou meu coração,
pois teu beijo me consola,
só não te dou esta viola
porque é de estimação.

Cabelo em desalinho,
mão nas cordas do seu pinho,
versos soltos pelo ar.
É o artista do Nordeste
cantando feitim a peste,
num festejo popular.

Edmar Eudes

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DESABAFO MATUTO

Ó nêga, se tu soubesse,
meu peito, como entristece,
quando tu me óia assim...
Pois tu num gosta de mim,
Num tá me querendo amá...

Esse teu oiá mardoso
me dá um medo horroroso
que tu só quê me mangá.
Só porque eu nasci matuto
tu me faz essa mardade...
mas se eu fosse da cidade,
fosse juíz ou professor...

Tu vinha direto ao assunto,
me chamá pra vivê junto
e no mais bonito amor.

Mais eu já sei pra donde eu vou...
Eu vou é pra capitá,
pra eu estudá o bê-a-bá,
pra sê um dotô das letra,
dos diploma e dos ané...

E, quando tu vinhé,
com esse oiá de cururu,
eu nem se quer vou oiá pra tu...
eu vou é imbora pru sú,
casá com outra muié!...

Edmar Eudes

SINAL DE VIDA

Poesia premiada com Menção Honrosa, no V Concurso Nacional de Poesia, promovida pela revista Brasília, em 1984, em Brasília-DF.

A televisão e o rádio
falam de guerra.

No jornal, só violência!
Na rua, vê-se a morte ao vivo.

Morre o homem,
morre a mulher,
morre a criança,
morre a alegria,

Junto com a paz!...

Fecho a televisão
fecho o rádio
fecho o jornal
fecho a porta do quarto...

E beijo Rosa, ruidosamente,
para todos ouvirem
que o amor ainda está vivo!

Edmar Eudes

CASAMENTO DE DOIDO

Eu vou contar uma história
de dois doido a se amar:
o doido amava tanto a doida
que faltava se matar.
A doida era bem bonita
mas o doido era machista
no seu jeito de endoidar.

O doido era vaidoso
só andava bem vestido
mas a doida tinha raiva
porque ele era esquecido
quando vestia o pijama
em vez dele tá na cama
tava na mesa estendido.

As vezes a doida esperava
o doido vim com as doidiça
e o doido tava dormindo
com os ói chei de preguiça,
a doida se lamentava
pois enquanto ela endoidava
ele não via as maliça.

Mas quando o doido acordava
era as doidiça sem fim
era o doido e a doida junto
todos os doid dando beijim
beija o doido e beija a doida
naquela doidiça toda
que deixa a gente doidim.

É, mas até que um dia
apareceu lá um doutor
que inventou um remédio
e a doida e o doido curou
aí começaro a se oiá
começaro a se estranhar
e o casamento acabou.

Edmar Eudes

'AQUELE' CANDIDATO

Na campanha da eleição passada
chegou lá em casa um senhor,
parecendo muito rico,
com umas conversas de dotôr,

Pedindo pra nele eu votá
e dá um jeito de arranjá
uns que votassem também
dizendo se fosse eleito
ia dá todo jeito
pra eu na vida me dá bem.

Eu fiquei muito animado,
vendo aquele sujeito alinhado
dizendo ser meu amigo
e pensei assim comigo:
Esse sim me dá valô!

E com a disposição tamanha,
eu me embrenhei na campanha
em busca de eleitô

Ia todo satisfeito
com o retrato dele nos peito
e distribuindo santim
e mesmo sem nunca ter feito um curso,
eu fazia até discurso
sem me importá com quem mangasse de mim

De vez em quando ele aparecia
e me dava uns trocado
dizendo: isso é só o começo!...
Eu pensava: depois da eleição
ele vai me dá bem um milhão...
É o mínimo que eu mereço!

No dia de votá
ele disse: vote
e qualquer coisa pode me ligá
que eu vou sempre lhe atendê.
E me fez umas mil promessas
eu pensei: é nessa que eu vou me fazê!

Aí, quando soube que ele foi eleito
fiquei muito satisfeito
comprei logo fiado um cartão,
e disse assim pra muiê:
vou já ligar pro meu amigão.

Liguei...

Uma moça atendeu:
Alô... Quem é?...
Eu disse: Eu sou o Zé,
amigo do seu patrão.

Ela perguntou assim:
O Doutor José, aqui da Aldeota?...
Eu disse: Não...
O Zé, da favela aqui da Grota!

Ela, preparada pra ocasião, disse:
Ok, ok!... Aguarde só um pouquinho
que ele vai lhe atender...
... na próxima eleição!

Edmar Eudes